quarta-feira, 15 de julho de 2009

OS NAZISTAS E O VELHO DA MONTANHA


Os nazistas, repugnantes e repugnados pela sociedade, se autojustificaram, criaram um campo outro, com leis diversas, sem uma constituição como a nossa. E entre eles fizeram os experimentos necessários em busca do outro - do outro que não esse - puro, sagrado, intocável. A solução de uma humanidade.
Justificam-se os horrores pela nobreza do outro.
Um outro campo, não subordinado a este ordenamento não pode ser capturado, nem subjugado. Para além de uma moral. Criam suas próprias leis. Suas próprias normas.
Dois nazistas num outro; pelo outro - encontrados com um velho sábio ao pé da montanha que os recebe com águas de um estranho ribeiro - ribeiro não de águas tranquilas mas pertubadoras; alucinados entorpecidos, envolvidos, inebriados, passam dias experimentando-se na tentativa do outro; quem sabe, cientes dessa impossibilidade, o façam por mero prazer. Poder.

domingo, 31 de maio de 2009

Por detrás das grades...

Não é a escola Ruth Cabral. Mas tudo bem, todas as escolas são nossas.


"Dois alunos, um menino e uma menina. Olham. Por detrás da grade, são dois bem pequenos de olhares fixos na quadra. De lá vêm gritos de alegria. Dentro da sala o mormaço, o marasmo, a modorra. Estariam um pelo outro apaixonados, ali, os corpos quentes e suados colados olhando por detrás das grades a quadra coberta. Apaixonados estão ambos: pela manhã de outono e sol. A bola regira no fundo do gol."

Fabiano Ramos Torres. In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."


Cabrestos

" Os professores estão certos de que o problema da educação se resolveria se houvesse mais autoridade. Então eles desenvolveriam projetos, programas, conteúdos. Recorrer sempre á mesma tática parece afirmar que a autoridade é a única solução. Que onde não houver poder coercitivo não haverá possibilidade de coisa alguma. Limites, freio, cabresto, mata-burro, disciplina, rigor, são as únicas palavras - ou as preferidas – dos nossos professores."

Fabiano Ramos Torres In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."

Uma justificativa - ou tentativa de diálogo?

Uma justificativa.


"Eu T. O. me retirei da sala de aula do professor Fabiano de Filosofia porque não estava entendendo absolutamente nada do que ele estava falando, a aula estava chata e irritante, considero-me extremamente estúpida por não apreciar essa aula.
Pretendo ficar nas próximas aulas em sala de aula, se a aula estiver “legal” e se eu estiver entendendo algo, caso contrário irei me retirar a cada vez mais de suas aulas."

T.O.

A Prisão da Mente - Vinícius A. Carniato.



A prisão da mente.


Por Vinícius Alves Carniato. Aluno do 1ºA Ensino Médio. E.E. Profª " Ruth Cabral Troncarelli"


"Talvez eu fale de um mundo que vocês nunca verão, podem até me chamar de louco, pois isso é o que acam as pessoas que não sabem a verdade, é um mundo que está diante de seus olhos, mas tal ocupação e acomodação dessa vidina os impossibilitaram de ver essa prisão maquiada em que vivem, onde vocês são engrenagens de um sistema que trabalham por comando de um só, que pode fazer o que quiser com as engrenagens e o sistema, bom, quem sou eu? Eu sou mais uma ferrugem desse sistema!
Eu nem sempre fui assim, antes eu era só mais um nesse sistema e hoje eu vejo como fui e como vocês estão sendo explorados, é como ver uma prisão do lado de fora. Vocês se acham livres? O que é ser livre? É você ir pra outro país e precisar de um visto para não ser deportado? É você trabalar a vida toda para pagar o almoço deles, viagem, carro uma mansão talvez, quem sabe usaram seu dinheiro, você pagou eles em forma de impostos, desde que vocês nascem estão sjeitos a obedecer o sistema que é uma prisão para sua mente e te ocupa de tal forma que você não tem tempo para pensar, e sabe o que eles querem? Querem te moldar para você ser como qualquer um cidadão, que já assumiu o papel de servo e caso você não obedeça será recriado para aprender o sistema.
Quando meu professor “Neo” fez eu despertar, o que não foi fácil, pois eu era daquelas pessoas que fugia da verdade, eu queria a “paz”, mas agora eu perturbo a sua “paz”, então meu professor me disse que a minha prisão ea diferente, era como uma caverna escura e eu dentro dela de costas para a luz da saída e também que eu vivo no mundo de Matrix que é esse mundo de ilusões onde vocês vivem, é o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que voe não enxergasse a verdade.
Logo após ele ter dito isso, resolvi me virar e “sair” daquele lugar, e fiquei espantado com a verdade que os rodeia todos os dias e me senti como uma mosca saindo da garrafa. Logo após sair Neo veio até mim e sorrindo disse o seguinte: “ Admirável mundo novo”, pois o mundo em que você vivia era repleto de ilusões e esse aqui é a pura verdade, naquele mundo você daria voltas e voltas sem sair do lugar e poderia passar a vida toda pensando que estava vivendo, mas agora cortamos a lina que te controlava, você era um marionete Vinicius, mas meu professor quis destacar uma coisa, pois é claro que meu professor é um filósofo, ele disse então: Vinícius, Filosofar é despertar para ver e mudar o mundo.” E eu nunca me esquecerei disso.
E hoje nossa função é tentar libertar e mostrar o nosso mundo pra vocês.”

Dureza das pedras...

"Os cartazes estão espalhados pela escola - todos com a sensação de tarefa cumprida: vão para casa felizes e no meio do caminho o sorriso se desfaz... eles começam a adentrar a vida e, se não nos esquecemos da aula de hoje, apenas nos restam os amigos, os abraços, braços que se cruzam, laços e a vida que nos ensina..."não precisamos de escola...que a vida ensina " Dizem. Sim: aos tropeções mas ensina, mediante a queda, frente à dureza das pedras... pedra dura, já cansamos de dizer: todos conhecem. Pedra dura que dizer Itaquera. Se não conhecem é porque ainda é cedo...mas vão conhecer..."

Fabiano Ramos Torres. In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"

Eles são jovens...

Os olhos da menina se fecham e assim permanecem e ela, mãos no queixo ,permanece ouvindo a mesma ladainha dos números sendo cantados. O rapaz começa a encurvar-se sobre si mesmo e a sensação ao vê-lo buscando aquela espécie de auto-implosão é de que teria sido um erro a presença tão esperançosa de duas esperanças sorridentes: um menino e uma menina, no conselho de classe.
Mas de repente as feições tomam corpo de uma súbita explosão e por trás daqueles músculos que tentam permanecer inalterados, um pequeno desenho começa a se configurar por sob ambas as aparências. É que ali moram ainda a ousadia insuportável daqueles que não padeceram da picada e tampouco conhecem o sabor do veneno. E pois, em meio ao cheiro acre do suor de cansaço e desprezo ronda entre eles o perfume que o bolor das gavetas fez esquecer. Eu sinto então o cheiro da goiaba, terra molhada, o cheiro das manhãs com seus cafés agora passados sem pressa.

Eu escuto então de onde vem a salvação. Diz a menina:

- Eles não podem fazer nada !? Mas nós podemos...Nós somos jovens!

As minhas costas doem nesse dia e embora eu mesmo já não seja tão jovem assim eu pelo menos ouço a canção.

Fabiano Ramos Torres In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"

São Paulo, Maio de 2006. Uma noite de Insônia.


"Manhã de terça-feira, primeira aula. Encontro-me sozinho na sala de aula. Aos poucos os alunos do 1°A vão chegando: um bom-dia meio tímido, ainda sonolento...me pergunto como iniciar um trabalho de Filosofia numa manhã fria quando tudo o que os alunos queriam era permanecer deitados na cama...Olhar fixo em uma das carteiras permaneço ensimesmado e de repente salta-me aos olhos um símbolo: um aluno desenhara com sua velha caneta azul uma suástica. .

Como educador eu não podia deixar aquilo registrado sem tomar uma decisão, ainda que me custasse o sacrifício de uma aula, eu ganharia algo se fizesse com que meus alunos percebessem o significado absurdo de uma suástica. E seria melhor ainda se eles percebessem que é ainda maior absurdo desenhar uma suástica sem saber o que ela significa.

Aula de Filosofia: desvelar, desvendar, investigar, descobrir...O objetivo então era mostrar que a Filosofia era o contrário da Ideologia. Creio que consegui conduzir a aula, parece que os alunos tinham uma certa curiosidade em saber mais sobre as ideologias políticas.

Dias depois exibi o filme “Ilha das Flores”. E o que eu pretendi com isso? Ah! Isso é simples: O título e o conteúdo são antitéticos. Os alunos vão perceber que entre um e outro há uma contradição.

Na verdade os alunos já haviam assistido ao filme e quando retornei para junto deles, na sala de vídeo, percebi um clima de indignação por parte de alguns alunos. Mas a indignação dizia respeito a atitude da cultura escolar: “Discutir, discutir, discutir... a gente poderia fazer alguma coisa pra mudar ao invés de só discutir...”

Fiquei estupefato. No momento me vinha à cabeça um das competências que os educadores querem ver desenvolvidas nos alunos, a saber, que este aluno possa utilizar-se dos conhecimentos adquiridos na escola para construir projetos de intervenção social.

Ora, deste modo, assistir ao filme “Ilha das Flores” teve um efeito muito positivo: os alunos sentiram necessidade de partir para a ação. Isso nos anima pois assim temos a certeza de que o trabalho do professor é algo que se espalha para além dos muros da escola...e é isso que eu penso como educador: proporcionar conhecimento para vida, reconectar pensamento, vida e obra...

No momento em que escrevo este texto tenho nas mãos uma folha de caderno. Nesta folha há o nome de um aluno e um título: “O Cubo do Pensamento”. O aluno é Rodrigo Rafael. O texto diz o seguinte:

“Podemos dizer que o cubo tem muitas cores e cada cor pode ser o pensamento de uma pessoa; se cada pessoa concorda com a outra elas chegam em um entendimento. Assim as cores do cubo podem ser montadas mas não completo porque nunca ninguém concorda com tudo que todos dizem”.

Ouço também a aluna Agnes problematizar ainda mais: “ Mas...o cubo não vem montado? Porque é que nós o desmontamos?”

Chegam à uma resposta provisória: que nossas aulas são como um cubo mágico, cubo da vida, do pensamento...sei lá, um jogo que a gente aprende a jogar conforme se vai jogando. Como o cubo mágico: a gente aprende a montá-lo em meio a tentativas e erros. E o mais interessante é que por mais que pessoas já tenham montado o cubo, não há como ensinar a montá-lo a não ser pedindo que o montador-aprendiz monte seu próprio caminho. Para isso é necessário paciência e um certo gosto por desafios...

Filosofia: logo no primeiro mês, lembro-me da Mariany dizendo que não tinha como responder o que é Filosofia sem filosofar porque a pergunta “o que é Filosofia” já nos obrigava justamente a filosofar.

E o Bruno: estudamos Filosofia para não dormir...Foi uma feliz brincadeira pois ele nem imaginava que o filósofo Merleau-Ponty disse que “filosofar é despertar para ver e mudar o mundo.” Ele também não imagina que Kant, o filósofo alemão, dizia que as idéias de um outro filósofo o haviam despertado do sono...

Meus alunos do 1° A...o que eles escreveriam se tivessem de relatar o que aprenderam? Será que cada um deles seria capaz de auto-avaliar o seu próprio processo de aprendizagem? Será que eles poderiam apontar os aspectos mais importantes desse bimestre?

Estou preocupado e cansado, são 1:38 da manhã. O material de Filosofia parece pouco, mas pensando bem até que o pouco dá pra começar, afinal eu me esqueci dos filmes sobre o Oráculo de Delfos e sobre Pitágoras...bem, temos ainda dois slides nos computadores. Informações temos bastante, talvez ele possam responder qual a diferença entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico. Ou quem sabe apontem as condições históricas que motivaram o surgimento da Filosofia. Alguma coisa é possível: pelo menos a importância do diálogo eles devem ter percebido...ágora e dialética são inseparáveis. O que será que eles acham dessa informação?

Ah! Chega, 1:46, vou dormir...amanhã as aulas serão melhor do que nunca..."

Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"

Esta foi a proposta de uma avaliação de final de bimestre. Li este texto na aula, estávamos na sala de informática, formávamos um grande círculo. Após a leitura, os alunos exploriam em palmas e vivas! O retorno foi incrível. Muitos textos belos. Foi meu primeiro ano como professor e eu estava mergulhado até a alma nas concepções de Paulo Freire. Eu aprendi muito nesse ano, foi realmente um grande ano em minha vida!

Maiêutica

Ainda se despedindo - o que é pior do que uma despedida à prestação? Talvez a ressaca de uma partida repentina, aquela manhã-azedume que, mesmo sabendo de sua certeza, adiávamos constantemente: o dia em que nossos alunos como filhos da vida e da vontade de vida, partiriam.

Amor Fati: após a dor do parto, a dor do apartar.


Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"

Luis

Após cumprimentar muitos de seus amigos eu vejo de longe aqueles olhos. Vêm em direção a mim. Os lábio são grossos como os lábios de um negro. Abre um sorriso e em meio a uma voz trêmula - insegura - ele me agradece. E me dá os parabéns. Pede que Deus me abençoe e que o Espírito Santo siga me iluminando. " Eu não acredito em nada disso", penso eu. Mas ele insiste, as palavras não são muitas, nem poderiam ser: tem nos olhos um brilho que diz tudo. Tempos depois, o aperto de mão se tornou abraço e o abraço um pedaço de minha vida. No silêncio me vejo obrigado a reconsiderar.

Fabiano Ramos Torres. in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."

segunda-feira, 25 de maio de 2009


Não houve gritos. Nem descaso. Tampouco injurias. A voz do professor é interrompida vez ou outra e então ele pára de falar, aguarda, ao que os alunos pedem desculpas. Eles anotam, tiram dúvidas, arriscam, gaguejam, murmuram, em lugar de voz têm um leve balbuciar...Eu pergunto o que ele disse. Ele esconde com a mão esquerda a boca e tenta dizer alguma coisa. O professor insiste, ele sorri e abaixa os olhos que percorrem o piso do teatro. "Está certo!" - responde o professor - " Está certo!" O menino não responde, mas segue olhando para o chão e sorrindo.

Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"


- E.E. Profª "Ruth Cabral Troncarelli" -


Perfect! Cinco aulas belas! Num só dia, os alunos em silêncio, o silêncio quebrado por comentários curiosos - o começo em Filosofia!


Eles adentram o teatro, correm em minha direção e antes que eu perceba estou rodeado: os meninos e meninas sorriem..." vamos professor ! começa logo a aula!"

domingo, 24 de maio de 2009

Professor Escocês visita Itaquera



Em Junho o Coletivo Fórum Nômade de Educação e Arte irá recepecnionar o professor Terry Wrigley da Faculdade de Educação de Edimburgo. O pesquisador vem ao Brasil em viagem de pesquisa, a convite do Cecip. Na ocasião, o objetivo do professor " é conhecer , em duas semanas, um pouco sobre a diversidade de práticas pedagógicas brasileiras para promover a a aprendizagem de crianças, jovens e adultos ( Educação Básica) - e pensar a possibilidade de futuras parcerias ." Comenta Madza Ednir, consultora do Cecip.



O Coletivo "Fórum Nômade" vai receber o pesquisador e acompanhá-lo até a E.E Profª " Ruth Cabral Troncarelli" onde conhecerá as instalações da escola bem como será convidado a participar das aulas ministradas na ocasião. A seguir, o Coletivo " Fórum Nômade" juntamente com os convidados irão, em caminhada, até o "Céu Jambeiro", distante 2km da Escola Estadual. A caminhada tem por objetivo percorrer as ruas do entorno das escolas enfatizando as temáticas abordadas nos debates do Fórum Nômade, a saber, o ubarnismo e a arquitetura, o acesso à cultura, à arte e aos equipamentos de educação formal e não-formal, a temática da juventude e sua relação com a cidade, especificamente em sua interface com a periferia. Outro aspecto importante de nossas discussões têm sido as relações entre processos de subjetivação e as novas configurações do tecido urbano, ou seja, pergunta-se de que modo os jovens, numa cultura de periferia, constituem-se como sujeitos da escola, da comunidade, dos grupos... Pensar os processos de subjetivação em relação à cidade possibilita uma interação do indivíduo com a urbes o que abriria aos sujeitos uma dimensão para além de uma interioridade centrada em si mesma. Quais as possibilidades de redesenhar o tecido urbano para que nela seja possível novas formas de pensar e viver?

Uma das passagens que fará parte de nosso roteiro será a travessia por alguns dos inúmeros becos presentes na Cohab II. Fruto da dinâmica da retração e privatização do espaço público, os becos surgem à medida em que também são levantados muros ao redor dos prédios e casas. Ao passo que as pessoas encerram-se em condomínios, as ruas acabam por se tornar lugares inseguros: a segurança passa para o domínio do privado e a insegurança passa a ser assunto público. A travessia do beco, neste sentido, passa a ser uma experiência marcada pela intencionalidade mas, e sobretudo, uma experiência aberta: apesar do fechamento indicado pelo beco, a experiência que nele é possível é uma experiência aberta ao acontecimento. Isso significa que apesar da previsibilidade de uma tal passagem, o beco, assim como as ruas desconhecidas, se apresentam como aberturas ao inusitado e ao imprevisível.

domingo, 17 de maio de 2009



Passagem. Na periferia.




Um trabalho solitário. Sr. Rosalino. Cohab II

Passage Panoramas

Usos e abusos


Há diversos usos das vielas e dos becos. Aqui, os signos apontam alguns deles. O curioso é que todo mundo sabe como um beco pode ser usado, porém, desde que esse uso passa a ser registrado na parede com a tinta característica das pixações - o spray - o território passa a ter uma legitimidade que rompe os limítes daquilo que é estabelecido formalmente. A demarcação de territórios é uma demonstração de força.



Manhã de segunda-feira, a caminho da escola.




Uma praça pública. Um banco acorrentado. E talvez uma evidência a mais dos conflitos entre o público e do privado. E o lixo.

Escrituras Infames



Trabalhando a partir do diálogo com autores como Foucault e Walter Benjamin, venho recolhendo esses registros explícitos que formam uma verdadeira constelação de fragmentos. Dispostos em séries, é possível, por meio de um trabalho de composição, propor leituras que evidenciam uma espécie de discurso que eu me arriscaria a chamar de "escritura infames" sobre a pele rígida da periferia. Uma tal escritura poderia ser pensada como a instauração de uma língua menor no interior de uma linguagem - ainda que marginalizada, considerada criminosa - ainda assim ela nos possibilitaria uma leitura das relações de poder presentes no tecido urbano: a análise dos signos possibilita a compreensão de uma fala que se institui nas paredes pixadas como um texto. É possível também pensar as estruturas da sintaxe, os códigos de inteligibilidade e os mecanismos pelos quais essas falas são esquecidas e abafadas.






Cohab II - Em frente à escola Ruth Cabral Troncarelli






No Portão de entrada, já dentro da escola.


Viela de interligação entre uma avenida e uma rua de acesso.


The Zarathustra's Cave

Riobaldo: “ Viver é muito perigoso...”

Nietzsche: “ vivre en general signifie être en danger.” ( ... ) “Le secret pour récolter la grand fécondité et la jouissance la plus grand est de vivre dangereusement” ( idem. ) ( Nietzsche. Apud Jaspers. Nietzsche. Itroduction a sa philosophie. Pg 301.)

Eu declaro o diferendo. ( Fabiano Ramos Torres )


“Diferente de um litígio, um diferendo seria um caso de conflito entre duas partes (pelo menos) que não pode alcançar uma resolução imparcial por falta de uma regra de julgamento aplicável aos dois argumentos” ( J.F. Lyotard)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

"Declaramo-nos filósofos ou escritores, devemos nos confessar impostores. Não existe pensar verdadeiro que o sentido de sua indignidade não escolte. A única maneira de sair desse atoleiro, pelo menos em parte, é exibir o inelutável. (...) De modo que o que ameaça o trabalho de pensar (ou de escrever) não é ele permanecer episódico, é ele fingir-se completo."

Jean-François Lyotard " Peregrinações" (p. 21)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Iris Marion Young, “Imparcialidade e o Cívico Público. Algumas implicações das críticas feministas para a teoria moral e política” (Parte I)

«Muitos escritores que procuram um marco emancipatório para submeter a discussão da teoria política individualista liberal bem como para a contínua invasão da burocracia na vida quotidiana, afirmam ter encontrado um ponto de partida nos ideais não realizados da teoria política moderna. John Keane sugere, por exemplo, que os recentes movimentos políticos das mulheres, das minorias sexuais e étnicas oprimidas, do meio ambiente e outros regressam à tradição da legitimação do contrato social contra a autoridade legislativa do Estado e das burocracias privadas contemporâneas. Como muitos outros, Keane ocupa-se especialmente dos ideais não realizados de liberdade e política cooperativa de Rousseau.“Segundo Rousseau, já não se pode considerar o individualismo na emancipação através da oposição meramente competitiva com os demais; a forma autêntica e legítima deste apenas poderia construir-se mediante o enriquecimento comunicativo intersubjectivo das qualidades e realizações de cada indivíduo separadamente até alcançar a unicidade e a incomparabilidade. Apenas através da vida política poderia o indivíduo converter-se em indivíduo concreto e insubstituível ‘chamado’ ou destinado a realizar as suas próprias capacidades incomparáveis”.[1]Existem razões plausíveis para afirmar que a política emancipatória deveria definir-se como aquela que celebra os ideais políticos modernos que foram suprimidos pelo capitalismo e pelas instituições burocráticas

quarta-feira, 25 de março de 2009




São seis e meia da manhã e a máquina do beco já produz. Na verdade não se sabe se o que vemos no beco sinaliza o começo de um novo dia ou se se trata de algumas horas extras do turno da noite, o que acontece é que ali estão dois homens operando e a máquina está funcionando.

Mais à frente, à entrada da creche, uma boca de lobo ameaça devorar as crianças.

Fabiano Ramos Torres

segunda-feira, 20 de outubro de 2008